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sábado, 30 de janeiro de 2010

Aquela que não tem tradução

Acredito que o primeiro texto do ano deveria ser especial, cheio de bons desejos, planos traçados, metas prestes a atingir...

Porém, com a cabeça que mais parece um balaio e o coração que bate no ritmo de um turbilhão, fica difícil achar palavras para escrever coisas boas.

Sim, um novo ano começa e finalmente tenho a impressão de que algumas coisas estão começando a se encaminhar.

Por outro lado existem outras - de suma importância - que só andaram pra trás. E mesmo querendo com toda força mudar o rumo que essa história segue, chego ao ponto de perceber que realmente não há nada a fazer.

Infelizmente vejo que o tempo passa... alguns sentimentos não...

Assim, começo 2010 falando daquilo que mais sinto atualmente.

Celebro hoje a data que muita gente nem sabe que existe: o Dia da Saudade.

No dicionário, saudade é uma "recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas".

É uma palavra que não tem tradução para outros idiomas, apenas referências pelo mundo...

É te extraño em espanhol, I miss you em inglês, j'ai regret em francês, ich vermisse dish em alemão.

Para Pablo Neruda a saudade é "o inferno dos que perderam, a dor dos que ficaram para trás, o gosto de morte na boca dos que continuam".

Já Guimarães Rosa diz que "saudade é ser, depois de ter" - como discordar???

Eu penso que sentir saudades é como comer o último bombom da caixa ganha de presente e querer que o doce dure pra sempre na boca, que o sabor nunca mais acabe...

É querer que o passado se torne novamente presente, que as boas lembranças marcadas na memória voltem a ser cotidiano...

É querer dizer, como em Get Here, da Oleta Adams, "se eu tiversse o poder certamente você estaria mais perto... eu não me importo como você vai vir até aqui, mas venha quando você puder"...

Na verdade eu poderia dizer mil coisas a respeito da saudade, mas nenhuma seria intensa o suficiente para explicá-la, nem pra traduzir em palavras o que é senti-la.

De qualquer maneira, achei um texto na internet atribuído a Miguel Falabella que, sem muita poesia, comemora bem esse estado de solidão e ignorância ao dizer que saudade é "não saber"...

Concordo plenamente! E "sem saber" o que o futuro me reserva, apenas compartilho com vocês as sábias palavras do escritor:

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo cerveja de garrafa; se ela continua preferindo Margarita; se ela continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; se ela continua cantando tão bem; se ele continua detestando o Mc Donald's.
Se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...