Há não muito tempo, depois de concluir um trabalho bem sucedido, um colega me perguntou se alguém tinha feito algum comentário sobre ele. Respondi que não e imediatamente ele lançou: “nossa, crise mesmo... estão economizando até nos elogios”...
É verdade... muito se fala em crise e é inegável que a falta de dinheiro bate à nossa porta cada vez com mais freqüência. Mas enquanto muitos estão ocupados em resolver problemas financeiros, pouco se percebe que esse não é o único tipo de crise que assola o ser humano moderno.
Há crises que independem de altos e baixos de moedas estrangeiras... São as que só quem sente pode realmente traçar a dimensão do problema.
Não sou psicóloga e nada entendo do assunto, mas quando eu estava prestes a completar 25 anos de idade, entrei numa dessas temíveis crises existenciais.
Rompi com tudo que me parecia confortável e digno de permanecer na minha vida por pelo menos mais 25 anos. Perdi os rumos traçados, deixei de acreditar em promessas, me desiludi com metas que se mostraram impossíveis de atingir... vi todo o meu castelo de areia se desfazer numa única onda.
Sobrevivi, mas achei que traçar novos planos poderia ser decepcionante demais caso não os atingisse e por isso, fui deixando o barco correr.
Agora, quatro anos e meio se passaram. Algumas metas antigas se transformaram um pouco, mas – feliz ou infelizmente – acabaram não se extinguindo completamente.
Isso quer dizer que ainda desejo reconhecimento pelo meu trabalho, apoio e compreensão de pessoas queridas, amigos sempre fiéis, um casamento feliz e duradouro (percebi que por mais piegas que certos sonhos possam parecer, não consigo desistir deles).
Tentando reencontrar o eixo e formando – muito lentamente – uma nova construção, fui levando minha vida até que, às portas dos 30, me vejo novamente cheia de dilemas.
Sempre imaginei que ao chegar a esta idade, tudo seria muito diferente. A independência financeira seria realidade há tempos e a felicidade a dois poderia estar ganhando um "integrantezinho". Mas as coisas nunca são como a gente imagina...
Os dias passam, se transformam em semanas e quando nos damos conta, passamos de um feriado religioso a outro num piscar de olhos. E o cotidiano vai assim como diz a letra de No surprises, do Radiohead, "sem alardes e sem surpresas"...
Nisso passamos a achar que somos velhos demais para assumir certos riscos e novos demais pra nos sentirmos tão entediados.
Ficamos a mercê de nossas constantes incertezas e da falta de acontecimentos realmente significativos. Nos decepcionamos com pessoas que parecem não entender nossas angústias, nem aceitar nossos anseios.
Porém, nada nessa vida é pra sempre e em meio a todos esses dilemas, às vezes basta um cafuné de mãe para fazer da noite ruim, um sono tranquilo.
Ou ter alguém que nos ponha no colo enquanto as lágrimas correm sem parar, para nos sentirmos a pessoa mais protegida e amada do mundo.
Às vezes basta lembrar que, assim como na economia mundial, tempos de crise vêm e vão.
E se eu ainda não encontrei a melhor forma de encará-los, me resta esperar que eles durem somente o mínimo necessário para tornar meu futuro melhor.
3 comentários:
É realmente complicado comentar um assunto desses, porque é impossível fugir de uma opinião muitíssimo pessoal. Eu particularmente - depois do "Em Busca do Sentido" do Dr. Frankl - tendo a subestimar os meus problemas. Afinal, sempre me dou conta de que nunca são tão problemáticos assim, afinal, continuo vivendo sem grandes mudanças. Todavia, a única certeza que ora abrigo é o desejo de chegar alí perto do último sopro de vida e pensar: ok, estou pronto!
É como se eu estivesse lendo sobre mim mesmo... Mas, enfim, tudo na vida passa... Boa sorte! Vc merece!
Bjão!!!
Muito bom esse post...
Sei exatamente o que você quis dizer com tudo isso. A trilha foi perfeita.
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