Como seria a vida se tivéssemos ao nosso redor apenas o ar que nos cerca? Se fôssemos envoltos somente por aura, sentimento, chuva, brisa e vento?
Não seria ótimo?
É certo que a aura dos apaixonados - aquela que deixa nosso prisma cor-de-rosa - causa mais efeitos positivos do que qualquer tônico que possa ser inventado... e que a sensação de saciedade de uma vitória parece - felizmente - nunca chegar...
Mas enquanto mortais, tão cheios de conflitos e defeitos, acabamos tecendo nossos próprios casulos incômodos, nos fechando em dúvidas, desconfianças e incertezas que tornam a vida duramente infeliz.
E quando as dúvidas pairam em nossa atmosfera nos tornamos pessoas frágeis, imaturas e erroneamente enganadas sobre nossas verdades... Viramos escravos do nosso amor-próprio, nos inflamamos de raiva, nos amargamos de ciúmes...
Como resultado temos um acúmulo de mágoas que corroem o estômago e fabricam mais lágrimas do que pedidos de desculpas.
Pela recente memória televisiva, é impossível não citar o enigmático Dom Casmurro, personagem de Machado de Assis que, dominado pelo ciúmes e pelas dúvidas que nunca se confirmaram, passou a vida cercado pelas lembranças distantes do tempo em que foi feliz...
Abdicou do amor e da longa caminhada que percorreu até ele em prol daquilo que acreditava ser mais valioso - o que era mesmo???
Capitu, que na obra de Luiz Fernando Carvalho ganhou como trilha a belíssima Elephant Gun, do grupo Beirut, passou a viver reclusa: sem amor e muito provavelmente, sem culpa pelo fim que Casmurro lhe destinou...
Há um ditado que diz que o ciumento passa a vida a procurar um segredo que irá destruir a sua felicidade. Outro, avisa: "o ciúme é o germe do ódio no amor; mata-o às vezes, fere-o sempre".
Pra mim o amor - de tão sagrado - vale todos os esforços, todas as adaptações, todas as mudanças de comportamento e sacrifícios que me permitem senti-lo.
Por ser tão raro e difícil de encontrar, deve ser tratado com o máximo de prioridade e jamais ser desperdiçado... Deve ser visto com a mesma grandeza que transforma nosso ser.
É por isso que, se eu pudesse, perguntaria: valeu a pena, Dom Casmurro?
Seus motivos eram fortes o suficiente para que você jogasse pro alto aquilo que tanto buscava? Suas dúvidas cruéis lhe confortaram o bastante para suprir a falta que o amor lhe fez, para preencher a lacuna que a pessoa que te amava lhe deixou?
Machado de Assis escreveu sua história e assim como ele, também escrevemos a nossa...
E se o mesmo destino que causa encontros casuais, paixões surpreendentes e doces confusões em mensagens telefônicas ajudasse a reescrever meus últimos parágrafos, traria o que realmente quero pro meu casulo: chuva, brisa, vento... e aquela paz de espírito que só o amor me dá...
PS: Ainda que tarde, um Feliz 2009 a todos!
Seja bem-vindo!
Toda postagem tem um link de acesso à música a que me refiro, é só clicar. Assim você desfruta do texto acompanhado da trilha... Curta o momento!
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2 comentários:
Não sei até que ponto concordo com essa proposição de que o amor é algo difícil de encontrar. É que, às vezes, nem sempre estamos procurando nos lugares ou pessoas certas, já nos ensinou Ovídio.
No entanto, uma questão ainda mais volumosa é como ser possível a plena realização do amor quando encontrado. Porque se a tendência é procurar pela pessoa certa - que quase nunca é a correspondente ao pulsar do coração para o verdadeiro afeto -, invariavelmente, como você nos ensinou, sacrifica-se por algo que se mostre mais valioso - mas o que é isso mesmo?
Contudo, não podemos esquecer que tal amor pode ser simplesmente inviável. Pois, embora a convicção seja mais do que evidente e a vontade de viver este amor sacrifique até mesmo o incógnito "sacrifício por uma coisa mais valiosa", ainda assim, uma muralha de problemas sem solução pode impedir-lhe o acesso.
Sem dizer que há a teoria do afago aos - não menos importantes - pequenos e transitórios amores, que lhe coloco a par numa próxima oportunidade.
Talvez, mais urgente - e racional - seja considerar a possibilidade (menos remota) de tudo o que eu esteja aqui a especular seja mesmo uma grande bobagem. Afinal, não tenho lá a convicção de ser a pessoa mais apropriada para falar de um assunto de tamanha envergadura.
Mas tenho que admitir que estas tuas linhas tão agradavelmente traçadas, lembrou-me sons de pássaros e, consequentemente, Yael Naim:
Yashanti
http://www.youtube.com/watch?v=9vxiDYqF0yA
...Az eyn li ma lemaher
Eyn li ma lemaher
Muito mais fácil assim:
Como sempre, LINDAS palavras !!! rs
Bom, sou totalmente suspeito para falar né???
Bjssssss
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