Outro dia escutei no rádio As the world falls down, do David Bowie. Imediatamente lembrei de "Labirinto", um filme que me acompanhou durante toda a infância e que tem essa bela música como trilha principal (pra quem não lembra, dê uma olhada nesse clip do You Tube).
O filme é um legítimo conto de fadas, com direito a mocinhas, castelos, seres esquisitos e, claro, uma figura um tanto quanto maligna - o Rei dos Duendes (Bowie, em excelente atuação).
Apesar da aparência, o personagem assusta e cativa ao mesmo tempo. É intrigante, cheio de mistério... mas acaba de certa forma, conquistando a personagem de Jennifer Connely, assim como seus espectadores.
A lembrança de Labirinto me fez voltar aos meus tempos remotos de vídeo-cassete e Sessão da Tarde. É um filme gostoso de ver e de relembrar, que certamente me deixou com muitas saudades da minha infância...
E como é bom ser criança!
Ser criança é ter como maior desafio comer uma tigela inteira de pipoca, ficar acordado até às dez, fazer um novo amigo.
Enquanto somos crianças o mundo parece que gira numa baixa rotação. Temos nossos pais como heróis que nunca nos decepcionam e nossos brinquedos, como soldados de um exército.
Enquanto somos crianças, ser inocente é a nossa melhor qualidade e não o nosso pior defeito...
Não conhecemos a inveja, nem a angústia... não sabemos o que é mágoa, desilusão, nem ofensa.
Não temos contas a pagar e não sabemos o que é ficar endividado. Não corremos o risco de ser assaltados numa rua movimentada, nem de ganhar uma gastrite por causa do trabalho.
Nessa etapa da vida, políticos, assassinos e ladrões não são figuras sinistras. Temos nossos próprios monstros, que nos assustam, mas não nos atingem.
Não precisamos lidar com pessoas mau-humoradas e não conhecemos ninguém que tenha prazer em nos irritar, muito pelo contrário. Somos amigos de todos, tratamos e somos tratados com respeito e igualdade.
Rimos por qualquer besteira e choramos por motivos igualmente bobos...
É uma época de sonhos, de despreocupação. Época de amar e se divertir como se esse tempo nunca fosse acabar, como se o relógio não fosse nos acordar cedo no dia seguinte.
No mundo adulto as coisas são bem diferentes. Somos cobrados por coisas que temos e coisas que não temos responsabilidade sobre... Sofremos decepções, aprendemos coisas à árduas penas.
Mas também temos privilégios. Criamos independência em vários aspectos e nos sentimos realizados com isso.
Conseguimos olhar para trás e ter a satisfação de que construímos algo bom, pra gente e para aqueles que estão ao nosso redor.
Conseguimos em algum momento, receber o olhar de admiração que tanto demos para outras pessoas no passado.
Ser adulto é também conviver com ironias... É perder o medo do escuro e passar a ter medo de coisas que não estão sob nosso poder. É largar a chupeta, mas não conseguir largar o cigarro...
É pedir colo, independente da idade... É admitir que se precisa de ajuda, mesmo quando tentamos parecer tão auto-suficientes.
É entender que - como diz a música - é impossível ser feliz sozinho...
Enfim, ser adulto é contemplar o passado e olhar com um pouco de desconfiança para o futuro.
É aprender a esperar o está guardado pra gente e fazer do agora algo que possamos também lembrar com saudades quando formos ainda mais velhos...
Seja bem-vindo!
Toda postagem tem um link de acesso à música a que me refiro, é só clicar. Assim você desfruta do texto acompanhado da trilha... Curta o momento!
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