"De repente, meus olhos encontraram os seus... Foi como se o resto do mundo deixasse de ter importância e tudo ao redor perdesse cor e movimento. Ao sentir tua pele na minha, percebi... não havia mais como fugir... Tomada por um sopro de vida que inflou meu peito e rapidamente aqueceu todo o meu corpo, apenas sorri... A partir daquele momento não seríamos mais os mesmos. De repente... como num daqueles esperados raros momentos, tudo aquilo que sempre soou incompreensível pra nós, simplesmente... começou a fazer sentido".
Está escrito! Lá nos meus mais íntimos registros... Foi assim que sempre sonhei, que esperava que acontecesse... Com um belo roteiro que ficaria bem até nas telas do cinema...
Quando se tenta escrever sobre uma história inacabada, faltam palavras pra compor o texto, até a ficção fica difícil de terminar... A esperança de que as coisas voltem ao ponto em que estava tudo bem parece uma vela de chama fraca prestes a apagar. Sobra pessimismo e a saudade que corrói até o mais duro dos pensamentos ganha mais força cada vez que se respira...
Já quando se tenta viver uma boa história, falta roteiro... Tudo aquilo que a gente tinha imaginado dando super certo cai por terra... perdemos o rumo dos fatos e o domínio sobre os personagens. Cometemos um erro atrás do outro...
E se "um homem sem amor, é um morto que caminha", para ter a certeza de ser feliz ao lado de alguém procuramos o quase-perfeito... saudável, polido, educado, cheiroso, de pegada forte... o que estará sempre pronto a dar e receber todo o amor que houver nesse mundo.
Esperamos tanto por esse Príncipe Encantado que chegará num cavalo branco sorridente e seguro de si como uma fortaleza inabalável, que somos capazes de enfrentar dezenas de sapos desencantados com a bravura típica de uma heroína das grandes histórias.
Procuramos tanto... e às vezes, encontramos um Shrek... O príncipe moderno, que direto do pântano, vem com um pacote de desafios completo: um pouco de grosseria, instabilidade emocional, aversão a compromissos e - sem querer misturar as bolas - uma pitada de Síndrome de Peter Pan.
E aí, vamos ser realistas... com todo aquele jeitão de ogro fica difícil acreditar que aquele possa ser o cara ideal, não é mesmo?
Mas acontece que, sem roteiro pré-estabelecido, a vida toma rumos inesperados e sem nos dar conta, acabamos nos encantando com esse ser tão diferente.
Com o tempo, delicadezas aparecem no dia a dia e o infinito azul de seus olhos passa a te parecer mais incrível e cheio de possibilidades do que o Atlântico.
A voz, o cheiro e a pele daquele "príncipe" se tornam inconfundíveis, incomparáveis e necessários.
Aos poucos, você vê que apesar da aparência rude e da insistente negação, os ogros também amam e você percebe que o cavalo branco não faz falta, mas que não sentir a mão daquela criatura no seu cabelo, nem um afago antes de dormir, faz seus dias parecerem tristes e nublados.
E assim sem mais nem menos, você passa a querer que a sua história tenha um importante parágrafo, com direito à This year´s love, do David Gray, na trilha sonora.
E se você finalmente consegue vê-lo como um príncipe, a reciprocidade passa a ser um novo desafio...
Ele te veria também como a heroína da história? A princesa forte, cheia de qualidades e defeitos que está disposta a enfrentar monstros do lago e dragões alados para concretizar seu sonho de amor, para que a sua história possa enfim terminar com o esperado "e foram felizes para sempre"?
Bastaria o amor para que ele te enxergasse assim?
Se não, o que então seria preciso? Uma enorme seta luminosa apontando "esta É a pessoa certa", resolveria a questão?
Certa de que as belas histórias de Walt Disney me trariam conforto, tentei ser mais moderna. Procurei respostas em outras fontes e - graças à internet - encontrei um texto sobre a "pessoa errada".
Ele diz que a pessoa certa chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, o que não significa satisfação... Por outro lado, "a pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar que é para na hora que vocês se encontrarem a entrega seja muito mais verdadeira... vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas... vai tirar seu sono, mas vai te dar em troca uma inesquecível noite de amor. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar toda a vida esperando você".
E se isso for mesmo verdade, outro texto de autor desconhecido vem a complementar meus pensamentos: "ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário, os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado em fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca".
Assim, chego à conclusão que realmente não existe a "pessoa certa".
Existe aquela pessoa que te deixa louca de raiva por ser cabeça-dura demais, mas te amolece quando diz, cheia de ternura, o quanto você é linda... Aquela que te tira do chão nos ótimos momentos e te coloca no eixo quando você precisa de estabilidade. A que é cheia de defeitos detestáveis, mas que faz você acreditar que a vida real pode sim ter um pouco de magia, de encontros inesperados e de amores que, incrivelmente, surgem de despedidas.
Existe um alguém capaz de olhar bem firme nos seus olhos e dizer "eu sou a pessoa certa pra você. É com você, e só você, que eu quero passar o resto da minha vida".
E pra que isso saia dos contos de fadas e se torne realidade só é preciso enfrentar um desafio (talvez pior do que o dragão): encarar os próprios medos e admitir que o que existe não é a pessoa, mas o "amor ideal"... basta acreditar com toda convicção que ele seja possível e ele será.
Se minha história real ainda não teve um ponto final, fazendo minhas as palavras do autor anônimo posso pelo menos, encerrar este texto...
"Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó... Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é"!
"Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó... Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é"!